quarta-feira, 7 de julho de 2010

Perdão - Hannah Arendt

"Il est donc très significatif, c'est un élément structurel du domaine des affaires humaines, que les hommes soient incapables de pardonnes ce qu'ils ne peuvent punir, et qu'ils soient incapables de punir ce qui se révèle impardonnable".

Hannah Arendt trata, em duas de suas obras, "Eichmann em Jerusalém" e "A Condição Humana", do difícil conceito de Perdão. Segundo a autora, o perdão é a única solução para o problema da irreversabilidade. Isso quer dizer que apenas o perdão pode tranquilizar uma mente pertubada por faltas cometidas no passado, deixando-a livre para o futuro.
Além disso, Hannah Arendt acredita que o perdão só existe entre dois ou mais atores. Somente o outro é capaz de perdoar as faltas cometidas por alguém; auto-perdão não é uma forma válida de perdão, pois esse é necessariamente fruto da pluralidade de indivíduos.
O perdão é, nesse contexto, o oposto da vingança. A vingança seria a reação mais natural e automática a uma violação, porém essa reação levaria a uma nova ação negativa, ou seja, depois da violação, a vingança gera outra e se estabelece um círculo vicioso, em que atos ruins são repondidos por outros atos ruins. O perdão, por sua vez, é uma reação inesperada. Quando alguém sofre uma violação e responde com perdão, o violador se surpreende, já que se esperava a automaticidade da vingança. Essa ação quebra o círculo vicioso de maldade e o substitui por outro, virtuoso, em que um ato ruim é respondido com um bom. Substitui-se, assim, o ruim pelo bom.
No que diz respeito à relação entre punição e perdão, Hannah Arendt acredita que ambos são alternativas para se alcançar o mesmo objetivo: a quebra do círculo vicioso. A punição, assim como o perdão, impede, neutralizando a ação do violador, que um ato ruim venha em resposta por parte do violado. Justamante por serem modos alternativos, Hannah Arendt diz que os homens só são capazes de perdoar aquilo que podem punir. Ou seja, se um crime é imperdoável, também é impassível de punição.
Para a autora, o perdão pode orginar-se de dois outros sentimentos: o amor e o respeito. Perdoa-se alguém por amor levando-se em consideração o que essa pessoa representa ou pelo fato de que ainda se deseja sua amizade ou amor. Apesar disso, Hannah Arendt acredita que o respeito, um tipo de consideração que se mantem com pessoas que não se conhece ou não se é próximo, deve ser o bastante para que se perdoe.
Estou de acordo com grande parte da construção da autora, mas discordo que o perdão e a punição se relacionem como alternativas. Aceito que a punição, ao neutralizar o violador, coloque fim ao círculo vicioso que se estabelece entre violação e vingança, mas não acredito que essa relação seja verdadeira quando se pensa em fatores humanos. De um lado, o violado e possível perdoador pode se sentir melhor ao ver o violador ser preso, pois estaria estabelecida uma atmosfera de justiça, mas isso não significa que ele terá uma vida tranquila, em que as feridas do passado não mais incomodam, pois só o perdão é capaz de fornecer tal tranquilidade. Por outro lado, o violador é neutralizado e tem seu futuro roubado. Se ele for preso, terá de conviver com sua consciência (no caso de ter uma) e com a culpa daquilo que fez (no caso de que se arrependa do que fez, mas não seja perdoado). Se for condenado à pena de morte, teremos, então, mais morte e, sob meu ponto de vista, a lei e o direito não podem decidir se alguém deve ou não viver, pois o Estado não tem o direito de matar. Nesse sentido, me parece que a punição tenha mais um papel de alternativa à vingança do que ao perdão, pois punindo alguém estaríamos fazendo com o que se pague pelo que se fez: é quase uma institucionalização da vingança. Talvez a punição seja o modo mais fácil de quebrar o círculo vicioso, mas não o mais eficaz. Punir seria, então, a opção segundo melhor. Perdoar é sempre mais virtuoso e mais eficiente.

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