terça-feira, 10 de agosto de 2010

África do Sul: Conflito, Verdade e Religião


O mês de abril do ano de 1994 fechou, com uma eleição de participação de todas as 'raças', meio século de apartheid na África do Sul. Durante a era do apartheid mais de 18.000 pessoas foram mortas e 80.000 oponentes do apartheid foram detidos, 6.000 dos quais foram vítimas de tortura. A Comissão de Verdade e Reconciliação na África do Sul (CVR) foi autorizada a investigar abusos de direitos humanos cometidos entre 1960 e 1994, e ofereceu anistia para indivíduos em troca do testemunho do que realmente teria acontecido no passado. A missão da CVR era dar o panorama mais completo possível das violações que ocorreram durante o período, focando nas graves violações de direitos humanos definidos como assassinato, sequestro, tortura ou tratamento degradante.

As Bases Cristãs para a Reconciliação

O Arcebispo Desmond Tutu, o chefe da CVR, valeu-se de sua posição para promover a visão de que reconciliação era o objetivo mais importante da comissão. Para Tutu, os perpetradores se arrependeriam de seus pecados e as vítimas ofereceriam perdãi, levando à reconciliação entre indivíduos, primeiramente, e, em segundo plano, a nação como um todo. Vestido dos princípios eclesiáticos, Tutu oficializou uma série de ritos na CVR como se estivesse conduzindo um serviço sacro (aberturas com orações, hinos religiosos e velas sagradas em homenagem àqueles que se sacrificaram). Embora a CVR não fosse fundamentalmente estruturada em termos religiosos, o Arcebispo, de formação anglicana, e seu braço direito, Alex Boraine, presidente da Igreja Metodista, certamente imprimiu um tom religioso nos processos da Comissão.
Muitos dos que defendem a efetividade da CVR concordam com Tutu que o perdão (não-punição) era necessária para possibilitar a reconciliação. Alguns encontram a justificação do modelo da CVR na teologia cristã, que ensina os filhos de Deus a perdoar os seus inimigos e reintregar os pecadores na família de Deus. A mensagem da Igreja sobre verdade, perdão e reconciliação parecem ter sido abraçados com força pela África do Sul pós-apartheid. A estrutura cristã sob a qual operou a CVR era largamente aceita pelos sul-africanos graças à grande importância do Cristianismo no país. Embora seja verdade que uma forma pervertida da religião calvinista tenha santificado o apartheid e a Igreja Reformada Holandesa tenha reclamado que tenha sido ela e não o Partido Nacional que lançou os princípios do apartheid, é igualmente verdade que todos os movimentos de resistência foram influenciados pela teologia cristã. Um Cristianismo porfético se manteve firme durante toda a era do apartheid e, quando a maioria das organizações foram banidas, a Igreja permaneceu sozinha como uma voz legal de protesto. Portanto, não de se surpreender que, no período pós-apartheid, os ensinamentos da Igreja tenham sobrevivido, tornando possível um modelo de perdão.
Ubuntu e Reconciliação
Além da base cristã que fundamentava o perdão sobre a punição, a noção tradicional africana de ubuntu era um recurso legitimador. Ubuntu refere-se à cláusula final da Constituição Nacional, entítulada "On National Unity and Reconciliation", a qual forneceu as linhas gerais para uma comissão de verdade. Tal cláusula estabelece: "There is a need for understanding but not for revenge, a need for reparation but not for retaliation, a need for ubuntu but not for victimisation".
Não existe uma definição precisa, mas entende-se ubuntu como humanização, importância mútua e senso de comunidade. Isso corrobora a visão de que um ambiente de relações saudáveis é um no qual pessoas são capazes de reconhecer que sua humanidade é limitada pela humanidade dos outros. Para Tutu, uma pessoa que vive em ubuntu é mais propenso a desculpar os outros. Tutu encontra no ubuntu a justificação para promover a reconciliação acima da justiça, ou, como ele mesmo coloca, priorizando a justiça restaurativa sobre a justiça retibutiva.
O estudioso das religiões africanas, John Mbiti, confirma que a enfâse do ubuntu na comunidade é um princípio amplamente compartilhado por todos os africanos. Se algo acontece com um indivíduo, acontece para o grupo como um todo e se algo acontece com o grupo como um todo, acontece com o indivíduo. O indivíduo poderia apenas dizer que é algo desde que o grupo o seja.
O entendimento ubuntu da indivisibilidade da humanidade cria uma grande capacidade de se perdoar. Uma vez que um Africano detecte que uma pessoa pretende o bem e que há um desejo de se deixar o errado no passado, o desejo de se perdoar e o perdão vêm quase automaticamente, buscando um futuro que persiga o bem-estar de toda a Humanidade.
Os princípios ubuntu como coletividade, unidade e solidariedade de grupo poderiam promover a harmonia entre os membros da sociedade melhor que o desejo por retribuição, incorporada na forma de adversários em uma litigância. Em uma sociedade de ubuntu, o dever individual precede os direitos individuais. Na África do Sul, foi pedido às pessoas que abrissem mão de seus direitos para encarar os deveres que o ubuntu requiria. O direito individual foi sobreposto pelo direito da sociedade de viver em paz.
Alguns acreditam que a idéia de ubuntu foi uma criação de Tutu e de seus acessores para manipular e justificar um modelo reconciliatório, mas isso não faz sentido quando temos consciência de que a população mais pobre e não-urbana da África do Sul foi a parcela social mais desejosa da consolidação da Anistia. Entretanto, apenas cerca de sete mil pessoas pediram por anistia, a maioria dos quais criminosos comuns esperando convencer os comissionários de que seguiam ordens, e poucos eram grandes chefes do sistema de apartheid. Os requerentes confessaram seus crimes, como exigido pela lei, mas nem todos se arrependeram ou pediram desculpas. Cerca de 16% do requerentes receberam anistia; uma pequena parcela: de uma população de quarenta e três milhões de pessoas, apenas mil conseguiram a anistia com sucesso e foram reintegrados na sociedade.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Perdão - Hannah Arendt

"Il est donc très significatif, c'est un élément structurel du domaine des affaires humaines, que les hommes soient incapables de pardonnes ce qu'ils ne peuvent punir, et qu'ils soient incapables de punir ce qui se révèle impardonnable".

Hannah Arendt trata, em duas de suas obras, "Eichmann em Jerusalém" e "A Condição Humana", do difícil conceito de Perdão. Segundo a autora, o perdão é a única solução para o problema da irreversabilidade. Isso quer dizer que apenas o perdão pode tranquilizar uma mente pertubada por faltas cometidas no passado, deixando-a livre para o futuro.
Além disso, Hannah Arendt acredita que o perdão só existe entre dois ou mais atores. Somente o outro é capaz de perdoar as faltas cometidas por alguém; auto-perdão não é uma forma válida de perdão, pois esse é necessariamente fruto da pluralidade de indivíduos.
O perdão é, nesse contexto, o oposto da vingança. A vingança seria a reação mais natural e automática a uma violação, porém essa reação levaria a uma nova ação negativa, ou seja, depois da violação, a vingança gera outra e se estabelece um círculo vicioso, em que atos ruins são repondidos por outros atos ruins. O perdão, por sua vez, é uma reação inesperada. Quando alguém sofre uma violação e responde com perdão, o violador se surpreende, já que se esperava a automaticidade da vingança. Essa ação quebra o círculo vicioso de maldade e o substitui por outro, virtuoso, em que um ato ruim é respondido com um bom. Substitui-se, assim, o ruim pelo bom.
No que diz respeito à relação entre punição e perdão, Hannah Arendt acredita que ambos são alternativas para se alcançar o mesmo objetivo: a quebra do círculo vicioso. A punição, assim como o perdão, impede, neutralizando a ação do violador, que um ato ruim venha em resposta por parte do violado. Justamante por serem modos alternativos, Hannah Arendt diz que os homens só são capazes de perdoar aquilo que podem punir. Ou seja, se um crime é imperdoável, também é impassível de punição.
Para a autora, o perdão pode orginar-se de dois outros sentimentos: o amor e o respeito. Perdoa-se alguém por amor levando-se em consideração o que essa pessoa representa ou pelo fato de que ainda se deseja sua amizade ou amor. Apesar disso, Hannah Arendt acredita que o respeito, um tipo de consideração que se mantem com pessoas que não se conhece ou não se é próximo, deve ser o bastante para que se perdoe.
Estou de acordo com grande parte da construção da autora, mas discordo que o perdão e a punição se relacionem como alternativas. Aceito que a punição, ao neutralizar o violador, coloque fim ao círculo vicioso que se estabelece entre violação e vingança, mas não acredito que essa relação seja verdadeira quando se pensa em fatores humanos. De um lado, o violado e possível perdoador pode se sentir melhor ao ver o violador ser preso, pois estaria estabelecida uma atmosfera de justiça, mas isso não significa que ele terá uma vida tranquila, em que as feridas do passado não mais incomodam, pois só o perdão é capaz de fornecer tal tranquilidade. Por outro lado, o violador é neutralizado e tem seu futuro roubado. Se ele for preso, terá de conviver com sua consciência (no caso de ter uma) e com a culpa daquilo que fez (no caso de que se arrependa do que fez, mas não seja perdoado). Se for condenado à pena de morte, teremos, então, mais morte e, sob meu ponto de vista, a lei e o direito não podem decidir se alguém deve ou não viver, pois o Estado não tem o direito de matar. Nesse sentido, me parece que a punição tenha mais um papel de alternativa à vingança do que ao perdão, pois punindo alguém estaríamos fazendo com o que se pague pelo que se fez: é quase uma institucionalização da vingança. Talvez a punição seja o modo mais fácil de quebrar o círculo vicioso, mas não o mais eficaz. Punir seria, então, a opção segundo melhor. Perdoar é sempre mais virtuoso e mais eficiente.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O Perdão Cristão (2)



"Certo dia, Jesus estava ensinando. Estavam aí, sentados, fariseus e doutores da Lei, vindos de todos os povoados da Galiléia, da Judéia e até de Jerusalém. E o poder do Senhor estava em Jesus, fazendo-o realizar curas. Chegaram, então, algumas pessoas levando, numa cama, um homem que estava paralítico; tentavam introduzi-lo e colocá-lo diante de Jesus. Mas, por causa da multidão, não conseguiam introduzi-lo. Subiram então ao terraço e, através das telhas, desceram o homem com a cama, no meio, diante de Jesus. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse: "Homem, seus pecados estão perdoados".
Os doutores da Lei e os fariseus começaram a pensar: "Quem é esse, que está falando blasfêmias? Ninguém pode perdoar pecados, porque só Deus tem poder para isso!" Mas Jesus percebeu o que eles estavam pensando. Tomou então a palavra, e disse: "Por que vocês pensam assim? O que é mais fácil? Dizer: 'seus pecados estão perdoados'. Ou dizer: 'Levante-se e ande'? Pois bem: para vocês ficarem sabendo que o Filho do Homem tem poder para perdoar pecados, - disse Jesus ao paralítico - eu ordeno a você: Levante-se, pegue a sua cama, e volte para casa." No mesmo instante, o homem se levantou diante deles, pegou a cama onde estava deitado, e foi para casa, louvando a Deus. Todos ficaram admirados, e louvavam a Deus". (Lucas 5, 17-26)

Jesus foi, inegavelmente e antes de qualquer outra coisa, um grande reformador social. O seu novo conceito de perdão é, sem dúvida, um grande passo em direção ao senso de perdão verdadeiro. Antes dele o perdão era um poder divino, exclusivo de Deus: só Ele poderia perdoar as faltas humanas. O perdão ensinado por Jesus humaniza o poder de perdoar, ou seja, transfere parte desse poder divino também aos homens. Desse modo, não é verdade que somente Deus possa perdoar; mais do que isso, os ensinamentos de Jesus chega a des-protagonizar o papel de Deus na relação entre os homens. O perdoar humano não seria uma atitude de Deus manifestada através dos homens, mas verdadeiramente o exercício do livre arbítrio: perdoar ou não é uma questão individual.
Apesar desse avanço, e como já disse antes, o conceito de perdão contido nos evangelhos ainda é limitado. Pois se o perdão cristão deve ser mobilizado pelos homens entre si, só o é na esperança de ser perdoado ou recompensado por Deus no dia do juízo final.
Se Deus recompensa ou perdoa os pecadores, o perdão deixa de ser um fim em si mesmo, tornando-se uma obrigação forçada pelo medo ou pelo interesse.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010

domingo, 20 de junho de 2010

Hipocrisia e Superstição

Governista Juan Manuel Santos vence eleições à Presidência da Colômbia

O ex-ministro da defesa do Uribe, Juan Manuel Santos, foi eleito novo presidente da Colômbia com 70% dos votos. Como de costume, muita violência sacramentou o dia, ocorreram ataques e mortes durante a semana e hoje policiais perderam a vida.
Não sendo o voto obrigatório na Colômbia, o nível de abstenção foi altíssimo.
Santos prometeu proteger a política de combate à guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) executada atualmente por Uribe.
É triste ver que mais um fanático sobe ao poder. Uribe já havia dado provas suficientes de seu canalhismo e desumanidade. É preciso falar dos Falsos Positivos? Mesmo assim os colombianos elegeram seu sucessor governista. Por um momento cheguei a acreditar que a oposição ganharia e Antanas Mockus seria o novo presidente.
A Colômbia sempre foi o hard case do nosso continente e, apesar de não acreditar na potencialidade de Santos para resolver o problema, espero que se acabem as violações aos direitos humanos. O país precisa, enfim, de paz.

Reaja, América!

Berlusconi: "Siamo il Paese più ricco d'Europa"

Só para perguntar: onde esse homem anda com a cabeça?

e agora minha manifestação oficial: risos!


sábado, 19 de junho de 2010

Edward VI and the Pope: An Allegory of the Reformation


Alegoria da Reforma Anglicana.
Na cama temos o famoso Henrique VIII, que para que pudesse se casar com Ana Bolena se separou do catoliscismo ainda que mantivesse uma religião idêntica àquela de Roma, com a única diferença de não ter o Papa como seu chefe. Henrique VIII passa o poder para o pequeno Eduardo VI de apenas 9 anos, que, durante seu reinado, transformou o anglicanismo em algo totalmente independente e, sob o prisma dos dogmas, diferente do catolicismo. Ao seu lado temos seu Lord Protetor e tio, um dos Seymours. Aos pés de Eduardo temos o Papa e o clero, sem poder e abatidos.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Alguém pensou


"No âmbito das atuais relações burguesas de produção, entende-se por liberdade o livre comércio, a liberdade de compra e venda".

Manifesto do Partido Comunista - Marx e Engels

Festa na Coréia

sábado, 12 de junho de 2010

Il Mio Passato

Spesso ripeto sottovoce
che si deve vivere di ricordi solo
quando mi sono rimasti pochi giorni.
Quello che e’ passato
e’ come se non ci fosse mai stato.
Il passato e’ un laccio che
stringe la gola alla mia mente
e toglie energie per affrontare il mio presente.
Il passato e’ solo fumo
di chi non ha vissuto.
Quello che ho gia’ visto
non conta piu’ niente.
Il passato ed il futuro
non sono realta’ ma solo effimere illusioni.
Devo liberarmi del tempo
e vivere il presente giacche’ non esiste altro tempo
che questo meraviglioso istante.

Alda Merini

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mulheres Bomba



Choque de Princípios: Liberdade de Expressão e Discursos Preconceituosos

Liberdade de Expressão é indispensável para o bom funcionamento do Estado Democrático de Direito, pois se a democracia não é inteiramente regida pelo debate, tem no debate uma de suas principais fontes de legitimação. Isso significa que os regimes democráticos são testados continuamente pelo desejo de se permitir uma completa e franca troca de visões, entendimentos e opiniões. Mas essa situação se torna particularmente estridente quando entre essas visões a serem compartilhadas estão algumas "impopulares"(politicamente incorretas ou injustas). Sob essas circunstâncias, sociedades democráticas se defrontam com o problema da tolerância: elas devem decidir que tipo de discurso proteger e que tipo proibir.
Quando se defende a liberdade de expressão irrestrita, se abre espaço para discursos ofensivas, em que as palavras são usadas como armas para constranger, aterrorizar, humilhar e degradar. Então, por que se protege discursos preconceituosos?
Na visão tradicional, o Estado e seu governo são inimigos históricos da liberdade de expressão e não devem ser autorizados a escolher entre discursos que lhes agradam e discursos que lhes desagradam. Todo discurso, não importa seu ponto de vista, estão no mesmo igual e protegido patamar: são livres.
A favor de discursos preconceituosos está o fato de que restringi-los significa restringir a expressão, que deixaria de ser livre. Além disso, existe o argumento de que qualquer restrição tende a se expandir. Suponha-se que se condene os discursos preconceituosos como prejudiciais aos valores democráticos, o que garantiria que daqui algum tempo essa restrição não se direcione à outros discursos e acabe como uma arma política ou como censura?
Por outro lado, discursos preconceituosos são triplamente perigosos:
1) Para os perpetradores, cujo senso moral é gravemente diminuído;
2) Para os alvos de discursos preconceituosos, que se sentem degradados;
3) Para a sociedade como um todo, já que esse tipo de discurso apenas colabora para a difusão do ódio;
Além disso, discursos preconceituosos criam uma atmosfera de medo, de violência, de exclusão e de subordinação que não podem ser descritos somente como meras "ofensas", como pretendem alguns; seria muita irresponsabilidade e ingenuidade.
Defensores das restrições argumentam que discursos preconceituosos e igualitarismo são inconciliáveis, e o igualitarismo é a garantia primeira do status constitucionalista. Quando a liberdade de expressão contribui para a criação de um sistema social desigual e degradante, o Estado deveria ter a legitimidade para responder.
Quando se fala em liberdade de expressão, se tem em mente que toda e qualquer idéia deve ser ouvida e que o debate de temas públicos deve ser irrestrito, robusto e radicalmente aberto. Nesse contexto, o debate sobre discursos preconceituosos são complexos e interessantes, pois devem acomodar dois princípios fundamentais opostos: liberdade de expressão vs. liberdade de culto, igualdade racial ou outros.
O que se espera é que os defensores radicais da liberdade de expressão como a garantia constitucional que é, sejam também defensores do igualitarismo; a questão para eles é: irão eles proteger a liberdade de expressão em detrimento do igualitarismo ou o contrário?
Como resolver esse impasse? Não sei, mi dispiace!

Jovens Criminosos

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Movimentos Migratórios

Rota da Seda (2) - Jade e Seda

O mais antigo dos produtos a circular entre as cidades-oásis da Ásia Central e a China era a jade. Apesar de ser a mais ancestral das mercadorias, a jade não alcançava longas distâncias, ao contrário da Seda que chegava até a Europa, um dos motivos pelo qual se cunhou o nome “rota da seda” e não “rota da jade”.
O fato é que a circulação da jade perdeu força e expressividade com o desenvolvimento das técnicas metalúrgicas, pois o metal a substituía com maior propriedade. Na China, entretanto, ela continuou como um material importante e, com passar do tempo, adquiriu grande significado simbólico. Confúcio enxergou nela um paradigma para as virtudes humanas que mais admirava: “O homem evoluído encontra as mais desejáveis qualidades na jade. Macia, suave e brilhante, como a benevolência; fina, compacta e forte, como a sabedoria; angular, mas não afiada e nem cortante, como a justiça (...)”.
A seda, por sua vez, era produzida na China e levada até a Europa, marcadamente a mais lucrativa mercadoria levada ao longo da Rota da Seda: era o tesouro do império chinês, pois em nenhum outro lugar do mundo era possível produzi-la.
De acordo com a lenda chinesa, a criação da seda é mérito de Xi Ling, a mulher do legendário Imperador Amarelo (2698-2598 a.C.). A partir da dinastia Han, que investiu enormemente na diversificação das técnicas de produção, a seda adquiriu novas cores, ornamentos e detalhes. Estava mais colorida e algumas representavam paisagens e pessoas.
O comércio dessa mercadoria parece ter alcançado o Mediterrâneo pela primeira vez no segundo século a.C. e foi a primeira commodity a ser exportada do Oriente para o Ocidente. O conhecimento romano sobre a origem da seda era nebuloso: o termo utilizado para os chineses, que a produziam, era ‘o povo da seda’, mas era geralmente aplicado a todos os habitantes a leste da Pérsia.
Em Roma, assim como na Grécia, alguns filósofos associavam a seda ao hedonismo: misto de prazer e decadência, muitas vezes usada como estratagema diante de um adultério. Acreditava-se que as roupas feitas desse tecido tornavam-se excessivamente sensuais e provocava o apetite sexual. Alguns a chamavam de ‘tecido transparente’. De qualquer forma, a beleza, a qualidade e a representatividade econômica manteve a seda muito popular, todos queriam tê-la, tanto que o seu preço estava listado no Edito de Diocleciano (301 d.C.), uma tentativa de controlar a inflação e fixar preços máximos.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Rota da Seda


A Rota da Seda, ou rotas, um dos nomes mais invocados no estudo da História, é uma visão de camelos, comerciantes, brocados e sedas tão coloridas quanto o arco-íris, inspiração de contos, fábulas e de registros históricos antiguíssimos, como, por exemplo, o trabalho de Marco Pólo quando descreve sua viagem de Bagdá, na terra dos Califas, até a China.
Apesar do nome (Seidenstrasse) ter sido cunhado apenas em 1877, pelo explorador e geógrafo alemão Ferdinand Von Richthofen, desde o primeiro século da era cristã os chineses já tinham sua designação própria para ela que, traduzido da língua chinesa antiga, significava “Caminhos para as Terras Ocidentais”. O nome dado pelos chineses parece mais coerente, pois não se tratava de uma única rota, mas de várias, ao mesmo tempo em que, apesar da seda ser o produto mais representativo para o comércio, o percurso era utilizado para vários tipos de produtos e mesmo para o tráfego de pessoas de leste a oeste. O termo “Rota da Seda” acaba por sugerir uma jornada contínua, sendo que, na verdade, os bens eram transportados por vários caminhos, passando por várias mãos antes de chegarem a seu destino final.
Atualmente, muitos utilizam o nome “Rota da Seda” como um termo que cobre não somente uma vasta área geográfica, marcada por montanhas íngremes e por desertos, mas também uma cultura histórica muito rica. As civilizações ao longo da Rota da Seda, incluindo os impérios esquecidos, como o dos Sogdianos e o dos Xixia, e grandes centros urbanos, como Nisa, Merv, Bokhara e Samarcanda. Pelo sul, as rotas atingiam regiões remotas como o Tibete e o Afeganistão.
Muitos mapas mostram a Rota da Seda começando em Xi’an, na China, apesar da grande maioria da seda chinesa ter sido produzida mais ao sul. Formalmente conhecida como Chang’na, essa cidade era a capital do Império Chinês de 206 a.C. até 220 d.C., durante a dinastia Han, quando os imperadores chineses expressaram, pela primeira vez, um interesse considerável pelas terras além das suas fronteiras ocidentais e quando os Romanos mostraram-se igualmente interessados na compra da seda vinda do oriente.
De Xi’an, a Rota da Seda corre para o oeste pelas terras de Lanzhou e, depois, pelo corredor de Gansu até Dunhuang. Essa cidade, situada num oásis, tornou-se um dos maiores centros de cultura Budista da China do século quarto até o décimo. Próximo a Dunhuang, as rotas pelo deserto se dividem. A rota norte principal seguia pelo sul das montanhas Tian Shan e pelo norte do deserto de Tlakamakan, passando pelas cidades-oásis de Hami, Turfan, Korla, Kucha e Aksu, antes de chegar a Kashgar. Essa longa rota era menos direta e menos árdua que a rota sul, que, passando por Charkhlik, Cherchen, Niya, Keriya, Khotan e Yarkand, também terminava em Kashgar. A rota sul foi mais significante do segundo ao quarto século da era cristã.
De Kashgar, uma série de rotas ia para o sul e para o norte, mas de modo geral, os monges budistas escolhiam as rotas que passavam pelos reinos budistas de Gandhara e Taxila, ao passo que os comerciantes iam pelo Norte, passando por Pamirs, Samarcanda e Bokhara, ou pelo Sul, até Merv, onde uma rota os guiava até o Mediterrâneo, via Bagdá e Damasco ou Antióquia e Constantinopla. Entre as cidades-oásis da Ásia Central até o Mediterrâneo, as rotas atravessavam terras inóspitas que engrandeceram o heroísmo de quem as percorriam.
O clima era extremo: as folhas das árvores dos oásis ficavam verdes e depois amarelas, avisando a quem estivesse por lá que o inverno estava se aproximando, o que, para os viajantes, era fatal, pois podia durar até oito meses. Graças aos ventos fortes e frios de Setembro, Outubro se tornava insuportável, com temperaturas alcançando -40°C ou menos. Durante o pequeno e abafado verão, as temperaturas giravam em torno de 38°C. Diante dessas circunstâncias, é imaginável o esforço desses viajantes e de seus animais para vencer as mudanças de clima.
Marco Pólo descreveu o frio quando passou pela região: “Essa planície, de nome Pamir, estende-se por vinte dias de jornada. Nesses vinte dias não existem habitações ou abrigo: os viajantes devem carregar suas provisões consigo. Nenhum pássaro voa por aqui por conta do frio e da altitude. Eu lhe asseguro que, graças a esse frio enorme, o fogo não brilha aqui da mesma cor que em qualquer outro lugar, e a comida nunca cozinha por completo”.
Havia mais problemas: a água era escassa e preocupava as caravanas que cruzavam os desertos, apesar de a maioria delas usarem camelos e dromedários a partir de Dunhuang; a segurança também deixava a desejar, já que bandidos saqueavam os viajantes ao longo de todo o percurso.
A profusão de pessoas, costumes, religiões e línguas, essa mistura nos bazares das cidades da Ásia ocorreu por milênios, marcada pela ascensão e queda de diferentes grupos humanos. Quando a seda era transportada da China até Roma, os Partios mantiveram a centralidade no papel comercial, apesar das barreiras fiscais no oriente e no ocidente. No século oitavo e nono da era cristã, eram os sogdianos que comandavam o comércio, apesar do surgimento de vários estados independentes ao longo da Rota. Por fim, com a expansão ocidental, os europeus dominaram o comércio entre o leste e o oeste, e a China acabou perdendo muito do seu controle sobre os estados a oeste de suas fronteiras.

Piratas do Mediterrâneo

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Democracia é possível no Islã?


O termo democracia não faz parte do dicionário do Islã; ele entrou em uso comum apenas na Idade Contemporânea, e em árabe soa como uma transliteração da palavra de origem grega. No Islã, apesar de “democracia” ser entendida literalmente como “o governo ou poder do povo”, a fonte do poder é Deus, que, não exercendo seu poder de maneira direta, delega ao homem a tarefa de ser seu representante na Terra (Corão 2,30), revelando sua vontade por meio do profeta.
Quando de sua morte, Maomé foi substituído por califas com o dever de reger a comunidade segundo as intenções e as regras (morais, políticas e sociais) que Deus manifestou em sua revelação. O Corão enfatiza: a necessidade de promover a justiça e o bem, e de impedir a injustiça e o mal; a necessidade por parte dos governantes de serem justos e da parte dos governados de obedecer; a obrigação por parte dos governantes de consultar com os representantes da comunidade. O livro sagrado afirma, ainda, que todos os crentes são irmãos sem distinção de raça ou de classe. A igualdade dos homens não se refere a um princípio abstrato, codificado em um sistema jurídico ou em um corpo de normas, que valem para qualquer indivíduo, como foi elaborado na Europa com o Iluminismo, mas se refere a uma concreta profissão religiosa, que no Islã, como no Hebraísmo Ortodoxo, é lei. O Islã desenvolveu o conceito de “minoria protegida” (os crentes de outras religiões monoteístas que vivem em um Estado Muçulmano) e, assim como o hebraísmo, reservou para si o pacto e a aliança entre Deus e o povo eleito.
A primeira comunidade de crentes era ligada por um forte senso de solidariedade. Uma afirmação atribuída ao profeta Maomé informa que o sal, a água e os pastos eram de todos, se tratava de um preceito formulado a pró da sociedade beduína, mas que, com o tempo, assumiu um valor universal, indicando a intenção religiosa de salvaguardar o bem-estar comunitário do negativismo individual. Assim, os mesmos princípios políticos de justiça, de obediência e de consultação tinham por finalidade criar uma harmonização entre o sistema de governo e a comunidade dos governados. Do resto, a doutrina política clássica, principalmente aquela sunita, sublinhou que o consenso é um elemento essencial para garantir a eleição do chefe do Estado e a legitimidade de seu poder. “Consultação” e “consenso” podem ser considerados conceitos relacionados à democracia representativa parlamentar, mesmo causando uma dificuldade interpretativa. O grande teórico radical Sayyid Qutb afirmou que “a consultação é uma das bases do governo do Islã”, mesmo sendo sabendo que “para aquilo que é relacionado a consultação, o Islã não definiu uma forma precisa, pois sua aplicação depende das necessidades e das circunstâncias”. A consultação poderia corresponder tanto a um sistema aristocrático quanto a um sistema democrático parlamentar, requisitando da parte dos consultados uma segura competência nas questões de direito e da lei religiosa. A questão da consultação e do consenso são condições garantidas para uma sociedade perfeitamente funcional, ideal e idealizada, como era aquela do profeta Maomé e dos quatro primeiros califas, os chamados “bem-guiados”. Depois que o califado se transformou e depois que a ambição pessoal dos soberanos tomaram frente aos interesses comunitários, nasceu o Estado Patrimonial. O termo que indica o poder real e o estado patrimonial foi descrito pelo filósofo da história política Ibn Khaldun, como “superioridade e obediência da força”, o que aparece como a negação da sociedade perfeita e harmônica que deveria garantir o equilíbrio entre governantes e governados. É conveniente citar que o califa representa o símbolo do estado islâmico clássico: a democracia, então, é entendida como consultação e consenso, em que o soberano detêm um poder arbitrário, sendo que, como qualquer outro governante muçulmano, têm o direito de ser obedecido incondicionalmente a partir do momento em que respeite o Islã e aplique suas disposições. Caso contrário, o povo têm o direito de se rebelar, impondo a defesa da fé e da justiça. Como afirma Sayyid Qutb, “a modalidade da obediência foi prescrita no Corão. É preciso distinguir naquele que governa, o fato de aplicar a lei religiosa e o fato de deter o poder da religião. O governante não recebe seu poder do Céu, ele se torna chefe somente graças a escolha e a liberdade absoluta dos muçulmanos. Cada regime onde se aplica a lei islâmica é um regime islâmico, qualquer que seja sua forma e denominação. A obediência dos súditos é unicamente condicionada e limitada da realização da lei islâmica por parte daquele que comanda”. Assim, no que se trata da consultação, não é claro qual o tipo de regime que se deva instaurar para a lei islâmica. Democracia, aristocracia ou autocracia, tudo parece dar certo quando se respeitam os princípios do Islã.
A falta de reconhecimento de um sistema institucional tem um profundo significado sociológico, como afirma um dos grandes teóricos da revolução iraniana, Ali Shari’ati. Segundo tal teórico, o Islã sustenta a igualdade entre os homens e que a religião é essencialmente um movimento, uma tendência para modificar a realidade (assim como Marx definia o comunismo sendo um movimento que muda o estado das coisas presentes). Portanto, todos os profetas monoteístas foram grandes revolucionários, que lutaram contra os poderes opressivos. Em relação a esses pressupostos, Shari’ati afirmou que “o Islã é a primeira escola de pensamento social, que reconhece nas massas o fator basilar, fundamental e consciente que determina a história e a sociedade”.
A partir do momento em que o Ocidente e o Oriente se encontram, a teoria e a prática política muçulmana sofreram uma verdadeira crise de identidade: a Europa, entre o século dezoito e dezenove começa a mostrar toda a sua potência militar e industrial, toda sua superioridade tecnológica, graças às quais conseguiram submeter ao jogo colonial, de modo direto ou indireto, grande parte do território muçulmano. Muitos muçulmanos sonharam a ocidentalização como meio de reformar seja o islã seja suas estruturas políticas-sociais, ao preço, para os mais extremistas, de rejeitar a religião. Assim, foi fácil entender os conceitos burgueses de liberdade individual, direitos humanos e de democracia parlamentar, como os referimentos teóricos de uma experiência liberal, que é abordada por muitos intelectuais modernos, mas malmente realizada em poucos países, como Egito, Síria ou Iraque. O processo de ocidentalização causou nos muçulmanos um sentimento de tensão e rejeição, fazendo com que eles reivindicassem uma islamização da modernidade, que algumas vezes levou a islamização radical da sociedade e do Estado. O Islã puro foi e é considerado para alguns como uma alternativa real aos modelos importados do ocidente, que aos seus olhos aparentam constituir o único modo de ser da sociedade contemporânea (Segundo o Fim da História - Fukuyama).
A partir da derrota árabe e muçulmana na Guerra dos Seis Dias contra Israel, a dramática insolubilidade do problema palestino, a política agressiva americana no Oriente Médio e o suporte que o Ocidente muitas vezes garantiu aos regimes autoritários da região, desprezando aqueles valores democráticos que os ocidentais insistem em implantar, foi traduzido, por nós, ocidentais, como Islamismo Radical. As desfeitas e a submissão diante dos Estados Unidos e do Ocidente, com “todo seus poderes”, por parte de Israel sionista foram vividas tanto como um castigo de Deus, quanto uma demonstração de que a ocidentalização é uma alternativa ao Islã, e que suas categorias, entre as quais a democracia, não são nem exportáveis nem adaptativas a uma realidade que deseja ser profundamente e totalmente islâmico.
Não é preciso sublinhar muito os fatos históricos, pois é evidente que o modelo democrático que prevalece atualmente, aquele liberal, seja escassamente ou por nada implementável nos países muçulmanos.
A falta de transição nos países islâmicos “democráticos”, de tipo ocidental, não é resultado de fatores religiosos, mas de fatores históricos e políticos. Em primeiro lugar, grande parte dos países islâmicos permaneceu, por décadas, sobre domínio imperialista europeu e, portanto, não pode desenvolver um caminho autônomo rumo às conquistas democráticas. O estado pós-colonial, que nasceu após os movimentos de independência, conservou vícios institucionais e econômicos (a pobreza, o prevalecer das classes dirigentes corruptas, a falta de uma dialética autêntica dos partidos, etc.) que permitiram a instauração de regimes autoritários para governar a transição para o progresso e para a modernização sem desigualdades sociais. Não é por acaso que os movimentos de libertação e os próprios governos que guiaram a transição para a independência e, depois, a própria independência tenham tido um caráter fundamentalmente militar. É claro que o caráter militarista das sociedades médio-orientais islâmicas não favoreceu a caminhada para uma democracia liberal.
As classes dirigentes da maior parte dos países muçulmanos desde o período liberal até os anos cinqüenta e nos anos que os sucederam, principalmente quando as sociedades começaram lentamente o processo de desmilitarização, transformando o Estado em uma reserva pessoal de privilégios. A tomada do poder e o controle exclusivo dos recursos constituíram um segundo obstáculo à democratização.
No Islã existe uma contradição fundamental entre o Estado, a sociedade civil e a nação, elementos característicos da democracia, no verdadeiro sentido ocidental do termo. O Estado não se identifica com a nação e a sociedade civil nem sempre opera a favor do Estado, e vice-versa. O Estado não se identifica com a nação porque o conceito de nação é de importação ocidental e de recente difusão nos países islâmicos: o califado era, por sua natureza, supranacional; e somente a sua crise política e teórica que abriu de fato a estrada para a criação de nações. A sociedade civil raramente opera à favor do Estado porque é ele que a domina, condicionando o desenvolvimento e a pluralidade, assim como acontece, por exemplo, através do controle da mídia e da restrição dos espaços de participação política.
O grande desafio do futuro é a formação de um conceito e de conteúdos de uma democracia islâmica. É irreal pensar em transportar o conceito político democrático ocidental em territórios que tiveram uma história e um horizonte teórico diferente. A necessidade da formulação e da implementação de uma democracia islâmica é imposta seja para salvaguardar a tradição cultural de países e sociedades que, após o contato com o ocidente, passaram por um lacerante processo de alienação; seja porque o conceito ocidental de democracia levou ao falimento que arriscou prejudicar o significado e a funcionalidade diante da opinião pública. Isso significa que a democracia islâmica é livre de adotar eleições e instituições como o parlamento. A questão dos direitos humanos é um assunto difícil de ser abordado, pois muitos intelectuais islâmicos, também progressistas, sublinharam como a universalidade dos direitos humanos seja um preconceito do Ocidente, que impõe a própria visão como universalmente válida (como se fosse um colonialismo cultural). O conceito de direitos humanos no Islã e no Ocidente possuem elementos diferentes. O Islã também reconhece o direito à liberdade, à propriedade, etc. Porém, de um lado, esses direitos são sancionados por Deus e não por um homem. Por outro lado, a dimensão comunitária do Islã prevalece àquela individual. Atualmente, muitos intelectuais islâmicos estão trabalhando em um profundo repensar da lei islâmica na direção de uma releitura sobre as liberdades civis, direitos humanos e pluralismo político e religioso.
O Ocidente tem que reconhecer, antes de tudo, que não é esse o momento de impor a democracia no Oriente Médio, e que é necessário difundir o liberalismo constitucional, que é um assunto ainda ignorado pela população daquela região.
Para quem pensa que o conflito pertence somente ao mundo árabe e que eles não mudaram nunca, é necessário lembrar que, vinte e cinco anos atrás, as grandes manifestações violentas anti-americanas aconteciam em países com Chile, México e Coréia do Sul. As razões eram as mesmas: o povo não gostava os regimes que os governava e viam os Estados Unidos como os responsáveis por esses regimes. Depois, aquelas ditaduras começaram um processo de liberação, a vida das pessoas melhorou, houve reformas políticas graduais seguidas de um abertura democrática. Com o passar do tempo, o sentimento anti-americano foi reconduzido à protestos contra a americanização da cultura.
Somente quando as manifestações de praça contra o Mc Donald's forem a única forma de anti-americanismo que deveria nos preocupar, o Oriente Médio terá alcançado grandes progressos.

Justiça para Todos

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Quanto vale o homem? (5)

Alguém pensou

"Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes"

William Shakespeare

Quanto vale o homem? (4)

Quanto vale o homem? (3)

Quanto vale o homem? (2)

Quanto vale o homem?


Em um ato brutal, o exército de Israel decide abrir fogo contra as embarcações da ONG Free Gaza que levava itens básicos de uso humano (alimentos, remédios e material escolar) para Gaza. Mais uma vez Israel passa dos limites e nos mostra como o homem é capaz de se desumanizar e se tornar uma besta irracional e sanguinária.
15 mortos e uma ação humanitária interrompida por um massacre.
Quer saber quanto vale o homem? O preço de uma bala.
É inaceitável que isso ocorra: não faz parte do mundo onde eu quero viver. E do seu?

Previsão do Tempo

sábado, 29 de maio de 2010

O Perdão Cristão


"Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia" - (Mateus, Cp 5 v.7).

"Se perdoardes aos homens as faltas que eles fazem contra vós, vosso Pai celestial vos perdoará também vossos pecados, mas se não perdoardes aos homens quando eles vos ofendem, vosso Pai, também, não vos perdoará os pecados" - (Mateus, Cp6, v. 14-15)

"Pedro aproximou-se de Jesus, e perguntou: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?' Jesus respondeu: 'Não lhe digo que até sete vezes, mas setenta vezes sete" - (Mateus, Cp 18 - v. 21-22)

Essa três passagens do Evangelho de Mateus nos dizem quais são os fundamentos do perdão segundo a Bíblia. Para resumir seria dizer: "Perdoai para que Deus vos perdoe". Nesse sentido, eu só obtenho o perdão de Deus se eu for capaz de perdoar os crimes contra mim cometidos. E mais, Mateus nos fala de misericórdia e, sempre que essa palavra aparece em seu texto, ela se refere 1) ao Perdão das ofensas e 2) ao Esquecimento;

O texto bíblico nos fala, ainda, que o esquecimento das ofensas é próprio de uma alma elevada, que está acima dos insultos que possa receber; que a misericórdia deve ser ilimitada e que só tem o direito de reclamá-la aquele que age com misericórdia.

Nesse sentido, Deus é incapaz de perdoar em dois casos: 1) pelo mal que uma pessoa eventualmente tenha feito sem se arrepender; 2) uma pessoa que tenha faltado com indulgência e caridade, não perdoando aqueles que lhe tenham feito mal.

Existem, na Bíblia, duas formas de 'perdão': 1) o verdadeiramente generoso, que poupa com delicadeza; 2) aquele que impõe condições e faz sentir o peso de um perdão que irrita, em lugar de acalmar. Para Deus, o perdão válido seria somente o primeiro, já que o segundo cria mais ódio e desaconchego.

Minhas discordâncias com esse tipo de perdão aparecem de diversas formas:

1) O 'Perdoar para ser perdoado' cria um mal-estar de consciência que força o perdão por receio, e qualquer tipo de perdão forçado não é verdadeiramente perdão, pois este deve ser espontâneo e autêntico, sem qualquer força externa que o obrigue. Quando penso que só serei perdoado e, à partir daí, merecedor do Paraíso se eu perdoar, o perdão se torna uma obrigação quando na verdade não o é. O medo da condenação de Deus e da ida para o Inferno aparecem como as verdadeiras causas desse sentimento, que deixaria de se vincular ao amor e se vincularia ao medo;

2) A misericórdia, necessária àqueles que pretendem o Paraíso, seria uma união de sentindo do que entendemos por perdão e por esquecimento. Mas se uma situação está perdoada, por que devo esquecê-la? Se o perdão desliga o passado sem aniquilá-lo, pondo um fim ao mal-estar, à raiva e ao ressentimento, lembrar dessa situação não causará discórdia, pois, se isso acontecer, não terá ocorrido verdadeiramente o perdão. Além disso, o esquecimento impede a memória e a identidade. Devemos nos lembrar que situações ruins e situações boas são igualmente importantes na construção de nossa personalidade e de nosso 'espírito' (entendam essa palavra como preferirem). Desse modo, esquecendo as más lembranças estaremos apagando também parte importante do nosso caráter.

3) Se ser misericordioso significa ser uma alma elevada, temos aqui construído uma hierarquia entre almas: a elevada e a não-elevada; a que perdoa e a que não perdoa. Temo a achar que isso criaria um condicionalismo: só serei capaz de perdoar se eu for uma alma elevada e serei incapaz de perdoar se eu for uma alma não-elevada. Me parece que nesse caso, já nascemos predestinados a ser "perdoadores" e "não-perdoadores". Por outro lado, o quão seria elevado o meu ato de perdoar se eu o fizer temendo ser punido por Deus?

4) Se para Deus o único perdão válido é aquele "verdadeiramente generoso", Ele pressupõe incondicionalismo em toda forma de perdão verdadeiro. Isso é interessante e intrigante ao mesmo que é contraditório, pois se Deus só é capaz de perdoar aqueles que haviam perdoado, não teria Ele mesmo uma forma de perdão condicional? Nesse sentido, só consigo pensar no "faça como eu digo, mas não faça o que eu faço". Estranho, né? Pois se Deus fosse passível de julgamento sob as leis que ele teria criado e nos transmitido através da Bíblia, Ele não seria perdoado.

A situação é estranha, mas gostaria de ressaltar o fato de eu não ser ateu, mas muito pelo contrário. Só acho que o credo cego se torna estupidez. Por outro lado, não acho que todos devam concordar comigo ou achar minhas críticas racionais, mas acho que o debate é sempre válido e que não devemos tomar as coisas como dadas, pois nesse caso se criam dogmas e estes já serviram para que muitos horrores acontecessem.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A Queda do Muro, o fim de uma geração, o começo de outra


depois de assistir "Utopia e Barbárie" estou num momento de reavaliação do nosso passado recente. A Queda do Muro de Berlim, em 1989, retrata bem essa fase e também o que está se passando comigo: desmoronamento de ilusões e libertação do pensamento. Pretendo desenvolver.

Filosofia Chinesa Clássica - Mêncio, Hsün-tzu, Mozi, o taoísmo e a escola jurídica

Para Mêncio, a humanidade identifica-se com simpatia e compaixão. “Não podemos ver, sem nos comovermos, uma criança cair em uma fonte”. O homem é, por conseqüência, naturalmente bom e as circunstâncias o pervertem. O órgão responsável pela consciência do que é bom é o coração. Pode-se destruir esse órgão quando se exerce violência sobre ele, mostrando a influência do taoísmo na filosofia de Mêncio.
Segundo esse filósofo, não basta que o príncipe possua todas as qualidades externas que um príncipe deve ter, é preciso ser virtuoso, governar os súditos com compaixão.
Politicamente, Mêncio diferencia-se de Confúcio. Para aquele, a soberania sobre tudo o que há debaixo do Céu compete ao Rei, o filho do Céu. Na época de Mêncio, alguns vassalos chegaram a usurpar o título de rei e aspiravam à realeza. Em princípio, não há rejeição desse filósofo para esse tipo de política, mas há um esforço para elevar a um nível ético. O filho do Céu tinha perdido sua significação real e encontrava-se em pleno curso a luta entre os diferentes estados pela soberania.
Profundamente conservador por natureza e convencido do grande valor do ritual, Hsün-tzu não se alheia das idéias da sua época, embora as combata. Para ele, as instituições criadas pelos sábios antigos eram tão válidas em seu tempo quanto haviam sido no passado.
Acreditava que um homem abandonado a si próprio não gera nada de positivo, pois a natureza humana é má; o bem, por sua vez, só é possível mediante aprendizado. Mas Hsün-tzu não é pessimista, pois crê na possibilidade de aperfeiçoamento humano.
Para Mêncio, devido à sua confiança na índole naturalmente boa do homem, não podia a educação ter o mesmo valor que tinha em Hsün-tzu. Entretanto, a crença na possibilidade de aperfeiçoamento não significa que esse filósofo creia numa espécie de progresso. Pelo contrário, o homem perfeito realiza apenas a harmonia que, num universo estático, subsiste já em essência, mas que é perturbado pelos desejos humanos.
Para Hsün-tzu, o conhecimento racional, em si mesmo, sem juízo moral, não tem valor algum. Apenas o homem ético é capaz de compreender a diferença entre o bem e o mal. O vínculo entre o conhecimento intelectual e a realização ética transforma a aprendizagem, no seio do confucionismo, em tarefa especialmente difícil.
A escola de Mozi, assim como a de Confúcio, também influenciou muito o modo de pensar chinês. Ela pregava o “amor universal do homem”, uma amor que não se limitava aos laços familiares, tribais ou de clãs, mas destinava-se a todos, protestando contra as diferenças sociais que existiam. Mozi opunha-se à manutenção das instituições rituais, pois acreditava que elas condicionavam as diferenças existentes e eram nocivas ao povo. Segundo sua teoria, se alguém ama os outros, é reciprocamente amado, de modo que não tem motivos para temer qualquer ato ofensivo vindo das pessoas amadas.
O taoísmo, por sua vez, tem como conceito principal o Tao: o caminho que a natureza segue, a alternância das estações, o florescer e o declinar, a vida e a morte. A concepção de mundo taoísta é dinâmica: a única lei que existe é a de que nada permanece igual, tudo está em constante mudança.
Na filosofia taoísta, qualquer estado em que se encontra uma coisa é apenas um estado temporal que se transformará no oposto. Ser e não ser, apogeu e declínio, vida e morte permutam-se constantemente. A única certeza é a própria alterabilidade e, por isso, buscamos atingir a unidade com esse único, que é inalterável dentro da lei da mutabilidade, o caminho pelo qual tudo passa: o Tao.
No Tao nada é desejado, nada é forçado: a unidade com ele só é alcançada quando nos abstemos de todo o esforço consciente para a perfeição. Chama-se a isso “não agir conscientemente”. Nesse contexto, todo agir consciente, relativo a qualquer fim é, portanto, errado.
A virtude, compreendida no sentido taoísta, é puramente vital e moralmente indiferente. Bom e mau não são conceitos reais. O melhor será não amar e nem odiar, mas submeter-se ao destino, em atitude indiferente, consciente de que à felicidade se segue a infelicidade e à infelicidade a felicidade.
A conseqüência do não agir consciente, aplicado ao Estado, é a abstenção dos problemas governativos. O povo deve ser mantido num estado de estupidez, distante da cultura, enquanto o príncipe renuncia a qualquer tentação de alargar o seu estado pela força das armas, é pacifista.
A última grande escola do pensamento chinês clássico, a escola jurídica, não é nada utópica, surgida dos movimentos políticos conducentes à organização do estado unitário chinês, já que a doutrina estatal confuciana não era utilizável para as necessidades de um estado cada vez maior e ambicioso, encontraram na lei o princípio de unificação para o estado que ambicionava um alargamento de poder.
Segundo o legismo, a lei deve ser dada a conhecer para que cada um possa se orientar a partir dela. Deve ser rigorosa, a fim de possuir uma eficácia intimidante. Todo o poder deve se concentrar na mão do príncipe; qualquer forma de poder emanado do povo deve ser anulada. Estado e povo tornam-se conceitos opostos. O Estado deve tornar-se rico e poderoso, enquanto o povo deve ser pobre e fraco, mantendo-se completamente dependente do Estado, por meio de um sistema legal de punições e recompensas. Só o medo pode impedir os homens de transgredir as leis e assim a virtude tem a sua origem no medo de ser castigado. Essa virtude consiste apenas na obediência às leis. A moralidade é considerada parasitária: só a ingenuidade e a ignorância são boas para o povo.
As leis têm que ser de tal modo formuladas que seja possível um bom governo constituído por funcionários medíocres, dirigidos a homens que por natureza tendem para o mal; o elemento humano exclui-se tanto quanto possível.

É Proibido Fumar

Filosofia Chinesa Clássica - Confúcio


Confúcio se considerava um reformador social conservador. Não pretendia fundar religiões. Aceitava os costumes religiosos existentes em seu tempo, mas parece ter evitado discutir os fundamentos da religião. Era grande inimigo das modificações hierárquicas da sociedade, pois achava que essas alterações eram retrocessos. Como meio de salvação propunha a restauração do estado de coisas em que se encontravam rigorosamente prescritos os deveres e direitos dos estratos sociais. A isto ele chamava de “a posição justa dos nomes”, ou seja, ele acreditava que deve haver uma correspondência entre a posição que um indivíduo ocupa e a atitude que ele toma. Quando o status de cada qual é o que deve ser e cada designação concorda com o respectivo conteúdo, domina o “nexo justo” entre o elevado e o baixo, o superior e o inferior e está garantido um bom governo.
O pleno desenvolvimento da virtude torna possível a quem quer que seja o cumprimento da ordem ética e natural. É por isso que o príncipe tem que se preocupar em exercer sua virtude, agindo sobre os outros graças às propriedades místico-mágicas. Com o passar do tempo, essa virtude mítico-mágica torna-se um virtude de sentido ético.
A grandeza de Confúcio reside em ter proposto, pela primeira vez, uma exigência ética que humanizava as relações humanas, pois, segundo seus ensinamentos, a concessão ao povo o que lhe pertence e o tratamento dos outros como aquele que se desejaria para si são necessárias ao equilíbrio natural, o que, de certa maneira, impõe limites ao poder e, principalmente, ao despotismo.
Diz Confúcio que as formas mais especiais de virtude são a fidelidade e o dever filial. No Estado, o dever filial era o vínculo do vassalo com seu senhor, ao passo que na família, o dever filial representa a submissão do mais novo ao mais velho e, principalmente, do filho ao pai (com o alargamento da cultura chinesa para sociedades de organização matriarcal, estendeu-se a designação também aos deveres relativos à mãe). No dever filial reside uma poderosa força educativa, uma disciplina de grupo e um conceito moral do mais alto valor: a vinculação aos antepassados.
Confúcio não se dirigiu às massas. Sua mensagem era válida para a classe dominante. O seu ideal era o nobre, ou, preferencialmente, o príncipe, aquele que detém um ideal ético.
Dois grandes filósofos continuaram o trabalho de Confúcio: Mêncio e Hsun-Tzu.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Estabilidade Energética

Filosofia Chinesa Clássica - Introdução


O Pensamento Ocidental está acostumado a investigar causas, de modo que o pensador contrapõe-se ao objeto que investiga: não se sente em unidade com ele. No Pensamento Chinês, o papel central está nas questões práticas, de modo que o homem é encarado como parte integrante e inseparável do mundo: não se trata de dominar a natureza mediante o conhecimento das suas conexões casuais, mas de uma concordância com ela, de uma autêntica ordenação de cada uma das coisas dentro de uma estrutura hierárquica, de uma relação de reciprocidade entre as coisas.
A vontade de domínio sobre a natureza tende para a alteração do estado existente, enquanto que a harmonia com a natureza cria um contentamento, relativamente à circunstância.
No quadro que lhe é apresentado, o homem aparece como protetor da ordem natural, sendo que essa afirmação é primeiramente válida para o governante, em contraste ao povo, que é governado, seguindo uma série de prescrições que servem para a manutenção da “ordem natural”.
É a partir da experiência que essa crença na ordem natural se torna legítima. O camponês, expressão social da importância da agricultura para os chineses, era consciente da sua ligação com a natureza, buscando cooperar com ela, já que sua vida dependia das estações para regular a colheita. Não foi difícil, então, para esse pensamento evoluir e desembocar em outro: a atitude e o comportamento humano podem influir na ordem natural. Num sistema em que a ética e a moral eram a órbita, qualquer desvio podia resultar em catástrofes.
Nesse contexto, o Rei aparecia como protagonista, já que ele era encarado como o filho do céu responsável pela ordem do mundo. Do procedimento exato do rei no dia-a-dia e nos rituais dependia o curso regular das estações e, por conseqüência, das colheitas. Desse modo, a precisão na realização dos ritos e moralidade incontestável do rei permitia que a ordem natural fluísse, garantindo o bem-estar social.
Um código social hierárquico apontava a cada um o seu papel: se o rei, os servos e os ministros agissem de acordo com o que seu status lhes prescrevia, havia ordem, felicidade e bem-estar no mundo, o que estabelecia um contato direto e justo entre o mundo dos homens e dos deuses.
Mas, como em todas as sociedades, o decurso do tempo alterou a estrutura social da China tradicional. Os vassalos atribuíam-se direitos que competiam a seus suseranos, enquanto o governante via-se sem o poder de fato. O sistema de heranças e a compra de terras por camponeses, somados ao empobrecimento da nobreza, deu origem a novos grupos sociais: a nobreza pobre e os possuidores de terras não-nobres.
Nesse contexto se gera a ética consciente: a reflexão sobre a atitude em relação aos demais, que já não é compreensível por si mesma. Mas, apesar disso, essa ética continua dirigida à prosperidade do estado e não do indivíduo e não é suprimida a referência à ordem natural.
Esse pensamento ético é representado por membros da classe nobre empobrecida que procuravam uma situação palaciana. Confúcio aparece como o primeiro grande nome concreto dessa nova ordem.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Charge antiga, mas de bom gosto.

L'Amour

Nosso Líder Mundial

E o nosso acordo com o Irã?


Já que um ataque às instalações nucleares iranianas parece arriscada e sem chances claras de ser efetiva, os EUA parecem estar "melando" o nosso acordo para que se prejudique a terra dos Aiatolás do jeito que parece possível. Os esforços de negociação de Washington com o Irã não deram em nada. Os israelenses, amiguinhos-puxa-saco dos EUA, já haviam falado em ataque, mas nada foi feito. Parece que a ótica humanitária começou a ser importante por lá (pulinhos e gritinhos eufóricos).

Depois de me deparar com uma matéria no britânico "The Economist" cujo título é "Brazil, Turkey and Iran: Not just any deal will do - have Brazil and Turkey helped solve a brewing nuclear crisis, or made it worse?", começo a ficar preocupado com a percepção que o "Primeiro-Mundo" tem do cenário em que estamos vivendo.

Lendo a reportagem-da-ilha, tive a impressão de que o Brasil e Turquia fossem grandes irresponsáveis. Segundo o jornal, o acordo de não-proliferação seria um triunfo apenas para Ahmadinejad, pois este estaria abusando dos esforços brasileiro e turco para se livrar de repressões da comunidade internacional e, depois, não cumpriria o "vago" acordo. Bom, pelo jeito, se cumpriria ou não, nunca poderemos descobrir. Sancionar parece mais eficiente (será?).

Achar que o Conselho de Segurança das Nações Unidas seja capaz de lidar com a situação é muita ingenuidade. O Órgão está tão defasado quanto saudar com um "Hei, Hitler". O mundo em que o CS foi criado está mais do que enterrado e seu funcionamento é tão contraditório que suas decisões acabam se esvaziando. O Irã deve ser condenado por infinitos motivos, não o estou defendendo, mas também deve ser Israel, China e muitos outros. O Brasil, desprovido de qualquer poder no órgão, jamais seria capaz de evitar as ações levadas à cabo pelos membros permanentes.

Depois, levar em consideração a opinião dos EUA é uma bela estupidez, pois Washington não quer saber a opinião de ninguém quando decide agir por conta própria: manipulam o CS e se nada consegue, age unilateralmente (preciso lembrar do caso Iraque?). Os norte-americanos estão tão desmoralizados que não servem mais nem de interlocutores de um acordo "vago". Daí achar que "se eu não posso, ninguém pode" é muita audácia. O Brasil fez certo e está mostrando sua cara (ufa, depois de uma era de política externa congelada, achei que fossemos morrer na geladeira).

De qualquer maneira, não acho que o Brasil deva se envergonhar do seu esforço ou abrir mão dele. A represália ao acordo me parece mais um recado: "Ei, tupiniquim, você não vai brincar de player internacional não", o que torna a situação ainda mais embaraçosa para os EUA.


Reportagem do The Economist: http://www.economist.com/world/international/displaystory.cfm?story_id=16167540&fsrc=scn/tw/te/rss/pe



Laicismo

Ser Professor

Muito lindo! e que fofa, transmite alegria!

Assistam!

Defesa Nacional

terça-feira, 25 de maio de 2010

Amorim - Água na Lua


Genial!

Perdão - Jacques Derrida


One can only forgive what is unforgivable. If one forgives what is easily forgiven, one doesn't really forgive. One must do the impossible!
Reconciliation and Forgiveness aren't the same thing. A forgiveness that is demanded or accorded to make possible the reconciliation isn't forgiveness. If we forgive to change some situation (restore peace, for exemple) it isn't pure forgiveness. It is political calculation.

Alguém só pode perdoar o imperdoável. Se alguém perdoa o que é facilmente perdoável, esse alguém não perdoou verdadeiramente. É preciso fazer o impossível!
Reconciliação e Perdão são coisas distintas. Um perdão forçado ou demandado, afim de que a reconciliação seja possível, não é perdão. Se nós perdoamos para mudar alguma situação (estabelecer a paz, por exemplo), não temos o perdão puro, mas uma manobra política.

Derrida: filósofo francês, pai da desconstrução.