quinta-feira, 3 de junho de 2010

Rota da Seda


A Rota da Seda, ou rotas, um dos nomes mais invocados no estudo da História, é uma visão de camelos, comerciantes, brocados e sedas tão coloridas quanto o arco-íris, inspiração de contos, fábulas e de registros históricos antiguíssimos, como, por exemplo, o trabalho de Marco Pólo quando descreve sua viagem de Bagdá, na terra dos Califas, até a China.
Apesar do nome (Seidenstrasse) ter sido cunhado apenas em 1877, pelo explorador e geógrafo alemão Ferdinand Von Richthofen, desde o primeiro século da era cristã os chineses já tinham sua designação própria para ela que, traduzido da língua chinesa antiga, significava “Caminhos para as Terras Ocidentais”. O nome dado pelos chineses parece mais coerente, pois não se tratava de uma única rota, mas de várias, ao mesmo tempo em que, apesar da seda ser o produto mais representativo para o comércio, o percurso era utilizado para vários tipos de produtos e mesmo para o tráfego de pessoas de leste a oeste. O termo “Rota da Seda” acaba por sugerir uma jornada contínua, sendo que, na verdade, os bens eram transportados por vários caminhos, passando por várias mãos antes de chegarem a seu destino final.
Atualmente, muitos utilizam o nome “Rota da Seda” como um termo que cobre não somente uma vasta área geográfica, marcada por montanhas íngremes e por desertos, mas também uma cultura histórica muito rica. As civilizações ao longo da Rota da Seda, incluindo os impérios esquecidos, como o dos Sogdianos e o dos Xixia, e grandes centros urbanos, como Nisa, Merv, Bokhara e Samarcanda. Pelo sul, as rotas atingiam regiões remotas como o Tibete e o Afeganistão.
Muitos mapas mostram a Rota da Seda começando em Xi’an, na China, apesar da grande maioria da seda chinesa ter sido produzida mais ao sul. Formalmente conhecida como Chang’na, essa cidade era a capital do Império Chinês de 206 a.C. até 220 d.C., durante a dinastia Han, quando os imperadores chineses expressaram, pela primeira vez, um interesse considerável pelas terras além das suas fronteiras ocidentais e quando os Romanos mostraram-se igualmente interessados na compra da seda vinda do oriente.
De Xi’an, a Rota da Seda corre para o oeste pelas terras de Lanzhou e, depois, pelo corredor de Gansu até Dunhuang. Essa cidade, situada num oásis, tornou-se um dos maiores centros de cultura Budista da China do século quarto até o décimo. Próximo a Dunhuang, as rotas pelo deserto se dividem. A rota norte principal seguia pelo sul das montanhas Tian Shan e pelo norte do deserto de Tlakamakan, passando pelas cidades-oásis de Hami, Turfan, Korla, Kucha e Aksu, antes de chegar a Kashgar. Essa longa rota era menos direta e menos árdua que a rota sul, que, passando por Charkhlik, Cherchen, Niya, Keriya, Khotan e Yarkand, também terminava em Kashgar. A rota sul foi mais significante do segundo ao quarto século da era cristã.
De Kashgar, uma série de rotas ia para o sul e para o norte, mas de modo geral, os monges budistas escolhiam as rotas que passavam pelos reinos budistas de Gandhara e Taxila, ao passo que os comerciantes iam pelo Norte, passando por Pamirs, Samarcanda e Bokhara, ou pelo Sul, até Merv, onde uma rota os guiava até o Mediterrâneo, via Bagdá e Damasco ou Antióquia e Constantinopla. Entre as cidades-oásis da Ásia Central até o Mediterrâneo, as rotas atravessavam terras inóspitas que engrandeceram o heroísmo de quem as percorriam.
O clima era extremo: as folhas das árvores dos oásis ficavam verdes e depois amarelas, avisando a quem estivesse por lá que o inverno estava se aproximando, o que, para os viajantes, era fatal, pois podia durar até oito meses. Graças aos ventos fortes e frios de Setembro, Outubro se tornava insuportável, com temperaturas alcançando -40°C ou menos. Durante o pequeno e abafado verão, as temperaturas giravam em torno de 38°C. Diante dessas circunstâncias, é imaginável o esforço desses viajantes e de seus animais para vencer as mudanças de clima.
Marco Pólo descreveu o frio quando passou pela região: “Essa planície, de nome Pamir, estende-se por vinte dias de jornada. Nesses vinte dias não existem habitações ou abrigo: os viajantes devem carregar suas provisões consigo. Nenhum pássaro voa por aqui por conta do frio e da altitude. Eu lhe asseguro que, graças a esse frio enorme, o fogo não brilha aqui da mesma cor que em qualquer outro lugar, e a comida nunca cozinha por completo”.
Havia mais problemas: a água era escassa e preocupava as caravanas que cruzavam os desertos, apesar de a maioria delas usarem camelos e dromedários a partir de Dunhuang; a segurança também deixava a desejar, já que bandidos saqueavam os viajantes ao longo de todo o percurso.
A profusão de pessoas, costumes, religiões e línguas, essa mistura nos bazares das cidades da Ásia ocorreu por milênios, marcada pela ascensão e queda de diferentes grupos humanos. Quando a seda era transportada da China até Roma, os Partios mantiveram a centralidade no papel comercial, apesar das barreiras fiscais no oriente e no ocidente. No século oitavo e nono da era cristã, eram os sogdianos que comandavam o comércio, apesar do surgimento de vários estados independentes ao longo da Rota. Por fim, com a expansão ocidental, os europeus dominaram o comércio entre o leste e o oeste, e a China acabou perdendo muito do seu controle sobre os estados a oeste de suas fronteiras.

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