quinta-feira, 27 de maio de 2010

Filosofia Chinesa Clássica - Introdução


O Pensamento Ocidental está acostumado a investigar causas, de modo que o pensador contrapõe-se ao objeto que investiga: não se sente em unidade com ele. No Pensamento Chinês, o papel central está nas questões práticas, de modo que o homem é encarado como parte integrante e inseparável do mundo: não se trata de dominar a natureza mediante o conhecimento das suas conexões casuais, mas de uma concordância com ela, de uma autêntica ordenação de cada uma das coisas dentro de uma estrutura hierárquica, de uma relação de reciprocidade entre as coisas.
A vontade de domínio sobre a natureza tende para a alteração do estado existente, enquanto que a harmonia com a natureza cria um contentamento, relativamente à circunstância.
No quadro que lhe é apresentado, o homem aparece como protetor da ordem natural, sendo que essa afirmação é primeiramente válida para o governante, em contraste ao povo, que é governado, seguindo uma série de prescrições que servem para a manutenção da “ordem natural”.
É a partir da experiência que essa crença na ordem natural se torna legítima. O camponês, expressão social da importância da agricultura para os chineses, era consciente da sua ligação com a natureza, buscando cooperar com ela, já que sua vida dependia das estações para regular a colheita. Não foi difícil, então, para esse pensamento evoluir e desembocar em outro: a atitude e o comportamento humano podem influir na ordem natural. Num sistema em que a ética e a moral eram a órbita, qualquer desvio podia resultar em catástrofes.
Nesse contexto, o Rei aparecia como protagonista, já que ele era encarado como o filho do céu responsável pela ordem do mundo. Do procedimento exato do rei no dia-a-dia e nos rituais dependia o curso regular das estações e, por conseqüência, das colheitas. Desse modo, a precisão na realização dos ritos e moralidade incontestável do rei permitia que a ordem natural fluísse, garantindo o bem-estar social.
Um código social hierárquico apontava a cada um o seu papel: se o rei, os servos e os ministros agissem de acordo com o que seu status lhes prescrevia, havia ordem, felicidade e bem-estar no mundo, o que estabelecia um contato direto e justo entre o mundo dos homens e dos deuses.
Mas, como em todas as sociedades, o decurso do tempo alterou a estrutura social da China tradicional. Os vassalos atribuíam-se direitos que competiam a seus suseranos, enquanto o governante via-se sem o poder de fato. O sistema de heranças e a compra de terras por camponeses, somados ao empobrecimento da nobreza, deu origem a novos grupos sociais: a nobreza pobre e os possuidores de terras não-nobres.
Nesse contexto se gera a ética consciente: a reflexão sobre a atitude em relação aos demais, que já não é compreensível por si mesma. Mas, apesar disso, essa ética continua dirigida à prosperidade do estado e não do indivíduo e não é suprimida a referência à ordem natural.
Esse pensamento ético é representado por membros da classe nobre empobrecida que procuravam uma situação palaciana. Confúcio aparece como o primeiro grande nome concreto dessa nova ordem.

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