quarta-feira, 26 de maio de 2010

E o nosso acordo com o Irã?


Já que um ataque às instalações nucleares iranianas parece arriscada e sem chances claras de ser efetiva, os EUA parecem estar "melando" o nosso acordo para que se prejudique a terra dos Aiatolás do jeito que parece possível. Os esforços de negociação de Washington com o Irã não deram em nada. Os israelenses, amiguinhos-puxa-saco dos EUA, já haviam falado em ataque, mas nada foi feito. Parece que a ótica humanitária começou a ser importante por lá (pulinhos e gritinhos eufóricos).

Depois de me deparar com uma matéria no britânico "The Economist" cujo título é "Brazil, Turkey and Iran: Not just any deal will do - have Brazil and Turkey helped solve a brewing nuclear crisis, or made it worse?", começo a ficar preocupado com a percepção que o "Primeiro-Mundo" tem do cenário em que estamos vivendo.

Lendo a reportagem-da-ilha, tive a impressão de que o Brasil e Turquia fossem grandes irresponsáveis. Segundo o jornal, o acordo de não-proliferação seria um triunfo apenas para Ahmadinejad, pois este estaria abusando dos esforços brasileiro e turco para se livrar de repressões da comunidade internacional e, depois, não cumpriria o "vago" acordo. Bom, pelo jeito, se cumpriria ou não, nunca poderemos descobrir. Sancionar parece mais eficiente (será?).

Achar que o Conselho de Segurança das Nações Unidas seja capaz de lidar com a situação é muita ingenuidade. O Órgão está tão defasado quanto saudar com um "Hei, Hitler". O mundo em que o CS foi criado está mais do que enterrado e seu funcionamento é tão contraditório que suas decisões acabam se esvaziando. O Irã deve ser condenado por infinitos motivos, não o estou defendendo, mas também deve ser Israel, China e muitos outros. O Brasil, desprovido de qualquer poder no órgão, jamais seria capaz de evitar as ações levadas à cabo pelos membros permanentes.

Depois, levar em consideração a opinião dos EUA é uma bela estupidez, pois Washington não quer saber a opinião de ninguém quando decide agir por conta própria: manipulam o CS e se nada consegue, age unilateralmente (preciso lembrar do caso Iraque?). Os norte-americanos estão tão desmoralizados que não servem mais nem de interlocutores de um acordo "vago". Daí achar que "se eu não posso, ninguém pode" é muita audácia. O Brasil fez certo e está mostrando sua cara (ufa, depois de uma era de política externa congelada, achei que fossemos morrer na geladeira).

De qualquer maneira, não acho que o Brasil deva se envergonhar do seu esforço ou abrir mão dele. A represália ao acordo me parece mais um recado: "Ei, tupiniquim, você não vai brincar de player internacional não", o que torna a situação ainda mais embaraçosa para os EUA.


Reportagem do The Economist: http://www.economist.com/world/international/displaystory.cfm?story_id=16167540&fsrc=scn/tw/te/rss/pe



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